14 de out. de 2010

O BURGUÊS


O burguês é autocentrado, egoísta, ganancioso. Pisa no outro, rasga a constituição, quebra vínculos e acordos, tudo para se manter no status de classe com direitos a acesso ao que a vida tem de mais importante: consumir.
O burguês, diferentemente do aristrocrata, por não ter uma noção rígida de hierarquia, sempre procura pisar quem está abaixo de si. Se contrata um empregado quer explorá-lo, de preferência, não lhe pagar os direitos trabalhistas. Odeia a arte e os artistas, mas, se por alguma razão que tenha como pressuposto massagear seu ego, demonstrar sua vaidade, precisa contratar um artista, faz questão de pagar a metade do combinado e fica de olho para ver se o artista não está comendo ou bebendo demais na festa em que está trabalhando.
Sempre achei panfletário a música “burguesia”, do Cazuza, até que eu entendi o que era, de fato, a burguesia. Vou mais longe, a burguesia colocou Hitler no poder. E calou-se quando ele começou a eliminar os judeus porque estavam com medo de perder seu status quo. É assim que a burguesia gosta de agir. Se mantendo surda aos apelos de solidariedade e justiça, porque, como urubus, esperam se apoderar da carniça alheia.
A burguesia não gosta de arte e despreza os valores da cultura, porque odeia a riqueza espiritual, o desenvolvimento da sensibilidade, não tem tempo a perder com livros, poesia, filosofia. Se há algo standart na prateleira do shopping center já pronto, com o rótulo de arte, pronto, estão satisfeitos os caprichos da alma, para quê mais? São falsos moralistas, hipócritas, usando a fé religiosa cristã como álibi para usurpar o que puderem do Estado. Quando lhes é vantajoso, usam os pressupostos da lei e da ordem, para fazerem negócios que podem ser legais, mas, normalmente, são imorais. Quanto custa? 10? Pago 1. E quanto mais tem, mais oprimem quem não tem para roubar-lhes o pouco que o outro tem. Esses são os valores da burguesia.
Estamos tão imersos no regime burguês que já naturalizamos os piores artifícios que um humano pode fazer contra o outro como regra geral de conduta. Assim, logo que um miserável passa a ter alguma coisinha a mais do que tinha antes, esquece o que foi um dia, despreza seu passado, esquece dos velhos amigos de penúria. E ainda bate no peito, dizendo que conseguiu tudo sozinho, que político nenhum nunca ajudou, que tudo foi conquistado graças ao suor de seu trabalho. Não percebe que o Estado o ajudou a enriquecer, não percebe que seu trabalho pode ser comercializado porque mais pessoas consomem, o salário tem poder de compra, a moeda está estável, o país goza de crédito. Ao contrário, agora acha que deve votar no político que sempre o ferrou, porque ferraria o outro se estivesse no poder, também. E aquele a quem lhe estendeu a mão, um dia, passa a ser visto como derrotado, como ingênuo, como alguém que não sabe o seu lugar no mundo, porque o mundo, como todos sabem, é dos espertos. Esse é o nosso novo rico. Esse é o nosso burguês.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Se há algo standart na prateleira do shopping center já pronto, com o rótulo de arte, pronto, estão satisfeitos os caprichos da alma, para quê mais?" ÓTIMO! É ASSIM MESMO. MAS AINDA ASSIM EU PROFERIRIA UNS PALAVÕES!!!!

HAHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAAHAHHAHAAAA...
QUANTO TEMPO... DIVERTIDO. BEIJERIKOS

celia musilli disse...

Ô raça!!! bjs