16 de ago. de 2012

O pac 'tucano' do pt


Ontem foi anunciado com estardalhaço plano de concessões para a construção e manutenção de rodovias e estradas de ferro no país, com direito à aclamação por Arnaldo Jabor, no Jornal da Noite, na Globo, e protestos enciumados de tucanos dizendo que eles já tinham isso definido desde o governo Fernando Henrique, mas que, para não dar o braço a torcer, o PT chama de concessões o que era denunciado como privatização. (Sh)Eike Batista chegou a dizer que o plano da presidência era o “kit felicidade”. Concordo plenamente. Com 80% do investimento financiado pelo BNDES fica fácil ser capitalista.
O que o governo pede, no entanto, para que uma empresa vença a concorrência, é que os preços das tarifas cobradas ao consumidor dos serviços prestados sejam os menores. Não li a fundo as notícias, nem li o plano que a golpista VEJA já anunciava, desde a última edição, em sua capa, como “o choque de capitalismo de Dilma”, mas não posso deixar de pensar que, se essa é a contrapartida exigida, realmente, o modelo neoliberal é que está em vigor.
Voltando à notícia veiculada pela TV, o que o JN se esforçava em mostrar era a presidenta Dilma anunciando, para um seleto grupo de empresários, o novo “PAC da infra-estrutura”. Todavia, como a TV Globo não podia borrar com efeito eletrônico a propaganda governamental ao fundo da presidenta, lá estava escrito: “país rico é país sem pobreza”. Então, por mais neoliberal que seja o tal pacote da infra-estrutura, alguma coisa trai essa atitude “tucana” do governo federal, pelo menos no slogan. E confiando que esse slogan ainda quer dizer alguma coisa para este governo, podemos refletir se o desejo (no slogan, ao menos) de justiça social vai contra ou a favor do progressista e desenvolvimentista pacote anunciado ontem. E em que medida ele torna a população brasileira menos pobre.
Seria de se perguntar, então, se o tal PAC da infra-estrutura prevê, como contrapartida, que se invista em projetos de impactos ambientais. Mas esse projeto de impacto ambiental não deve ser apenas aquele da “energia limpa”, mas o de sustentabilidade energética. Porque não adianta nada fazer uma obra ecologicamente correta – localmente – e devastadora, no que tange ao uso de energia não sustentável, por exemplo. Indo diretamente ao assunto: de que adianta uma “obra limpa” se, para que ela se realize é preciso criar usinas como a de Belo Monte? O que governos e empresários têm a dizer sobre isso? Aqui surge uma outra pergunta? Ao passar – contaminar, seja por proximidade, seja por uso do terreno – como isso será resolvido? Deslocando as comunidades sem consultá-las?
Do ponto de vista social, digamos que o empreendimento gere 100 mil novos empregos? O que representa isso em termos de população nacional? Um critério, além do preço que o consumidor irá pagar ao serviços prestados não deveria ser o salário que o empregador vai garantir aos seus empregados? Mais que isso, não era hora de garantir uma porcentagem do lucro para cooperativas de trabalhadores, com direito a voz e voto no empreendimento? Além disso, não se faz um país sem pobreza com gente mal instruída. Assim, seria de se perguntar se o governo tem um plano para o ensino e educação com o dinheiro dessas concessões. Quanto pretende investir em esporte, cultura, arte e saúde com essa verba e como vai fazer para que essa verba seja bem distribuída? Senão, fica o progressismo pelo progressismo, e isso será mais uma medida que, além de pífia e neoliberal, será mais um ataque ao meio ambiente e uma traição ao slogan do governo Dilma.