Ontem foi
anunciado com estardalhaço plano de concessões para a construção
e manutenção de rodovias e estradas de ferro no país, com direito
à aclamação por Arnaldo Jabor, no Jornal da Noite, na Globo, e
protestos enciumados de tucanos dizendo que eles já tinham isso
definido desde o governo Fernando Henrique, mas que, para não dar o
braço a torcer, o PT chama de concessões o que era denunciado como
privatização. (Sh)Eike Batista chegou a dizer que o plano da
presidência era o “kit felicidade”. Concordo plenamente. Com 80%
do investimento financiado pelo BNDES fica fácil ser capitalista.
O que o
governo pede, no entanto, para que uma empresa vença a concorrência,
é que os preços das tarifas cobradas ao consumidor dos serviços
prestados sejam os menores. Não li a fundo as notícias, nem li o
plano que a golpista VEJA já anunciava, desde a última edição, em
sua capa, como “o choque de capitalismo de Dilma”, mas não posso
deixar de pensar que, se essa é a contrapartida exigida,
realmente, o modelo neoliberal é que está em vigor.
Voltando à
notícia veiculada pela TV, o que o JN se esforçava em mostrar era a
presidenta Dilma anunciando, para um seleto grupo de empresários, o
novo “PAC da infra-estrutura”. Todavia, como a TV Globo não
podia borrar com efeito eletrônico a propaganda governamental ao
fundo da presidenta, lá estava escrito: “país rico é país sem
pobreza”. Então, por mais neoliberal que seja o tal pacote da
infra-estrutura, alguma coisa trai essa atitude “tucana” do
governo federal, pelo menos no slogan. E confiando que esse slogan
ainda quer dizer alguma coisa para este governo, podemos refletir
se o desejo (no slogan, ao menos) de justiça social vai contra ou a
favor do progressista e desenvolvimentista pacote anunciado ontem. E
em que medida ele torna a população brasileira menos pobre.
Seria de
se perguntar, então, se o tal PAC da infra-estrutura prevê, como
contrapartida, que se invista em projetos de impactos ambientais. Mas
esse projeto de impacto ambiental não deve ser apenas aquele da
“energia limpa”, mas o de sustentabilidade energética. Porque
não adianta nada fazer uma obra ecologicamente correta –
localmente – e devastadora, no que tange ao uso de energia não
sustentável, por exemplo. Indo diretamente ao assunto: de que
adianta uma “obra limpa” se, para que ela se realize é preciso
criar usinas como a de Belo Monte? O que governos e empresários têm
a dizer sobre isso? Aqui surge uma outra pergunta? Ao passar –
contaminar, seja por proximidade, seja por uso do terreno – como
isso será resolvido? Deslocando as comunidades sem consultá-las?
Do ponto
de vista social, digamos que o empreendimento gere 100 mil novos
empregos? O que representa isso em termos de população nacional? Um
critério, além do preço que o consumidor irá pagar ao serviços
prestados não deveria ser o salário que o empregador vai garantir
aos seus empregados? Mais que isso, não era hora de garantir uma
porcentagem do lucro para cooperativas de trabalhadores, com direito
a voz e voto no empreendimento? Além disso, não se faz um país sem
pobreza com gente mal instruída. Assim, seria de se perguntar se o
governo tem um plano para o ensino e educação com o dinheiro dessas
concessões. Quanto pretende investir em esporte, cultura, arte e
saúde com essa verba e como vai fazer para que essa verba seja bem
distribuída? Senão, fica o progressismo pelo progressismo, e isso
será mais uma medida que, além de pífia e neoliberal, será mais
um ataque ao meio ambiente e uma traição ao slogan do governo
Dilma.