30 de ago. de 2006

liberem essa droga!

1 - não sei ela faz mal à saúde física, se, com o tempo, o usuário passa a ter sintomas de algum tipo de doença, mas que a maconha deixa a pessoa imbecil, deixa.
2 - caretas que se acham "loucos" porque fumam maconha são os chatos de hoje e os evangélicos de amanhã.
3 - tanto quanto o álcool é uma droga a maconha também o é.
4 - a lei seca nos E.U.A. só fez prosperar a ilegalidade e a força da máfia.
5 - Se uma pessoa pode comprar uma bebida que pode lhe matar, porque ela não pode comprar uma maconha, também?
6 - mesmo legalizada, quantas pessoas dependem do sistema de saúde para combater os efeitos do álcool? Se estivesse na ilegalidade, o álcool mataria menos?
7 - Se estivesse na ilegalidade, como estão hoje as drogas, de forma geral, não haveria mortes de adolescentes que fazem avião na favela? Não haveria corrupção na polícia? Bandidos não iriam ter controle sobre sua produção? Não haveria guerra civil? Claro que haveria. Mais mortes, enfim, do que a simples estatísca do ministério da saúde, que calculam a influência direta causada pela droga e não suas derivações.
8 - todo mundo deveria ter o direito de se matar, se quisesse. Mas, porra, dá pra acender seu baseado pra lá! Agora não tou a fim.
9 - a função das drogas, nas chamadas civilizações primitivas, era ritual. Perdemos o sentido de religião (re-ligare) e agora queremos proibir as pessoas de serem livres para fazer o que quiserem?
10 - legalizada a droga - maconha e cocaína - o tráfico de drogas perderia seu sentido. E o Estado recolheria impostos desses produtos. Como na Holanda.
11 - e teríamos à disposição produtos de qualidade. Não droga malhada. Palha. Pó de mármore.
12 - e ela seria tratada como é tratado o cigarro. Ou até mais com mais severidade: fiscalização pesada, controle de plantio, manipulação, distribuição e vendas.
13 - Ih, cara, esqueci...
14 - Hein?
15 - Aberto ao debate. Comentem.

liberou o beck


Lei de tóxicos

Posse de droga para consumo pessoal deixa de ser crime

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 11.343/06 — a novaLei de Tóxicos.

A lei cria o Sisnad — Sistema Nacional de Políticas sobreDrogas. O objetivo é “prescrever medidas para prevenção do uso indevido,atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelecernormas para a repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito dedrogas”.

O texto revoga as leis 6.368/76 e 10.409/02, ambas sobre o mesmo assunto. A principal característica é a descriminalização da posse de droga para consumo pessoal. Outra mudança é o aumento da pena para o tráfico de drogas de 3 a 15 anos para 5 a 15 anos, além de 500 a 1.500 dias-multa.
Também há alteração no procedimento penal adotado pela Lei 10.409/02. Agora os delitos que não estiverem ligados ao tráfico são de menor potencial ofensivo, processados conforme a Lei 9.099/95; o prazo de conclusão de inquérito de réu preso passa para 30 dias; a infiltração policial em grupo criminoso e o retardamento do flagrante estão autorizados e poderá haver denúncia com o complemento das investigações.

Continua vigorando a defesa preliminar (antes do recebimento da denúncia), o que já havia na Lei 10.409/02. Porém, somente há interrogatório após o recebimento da denúncia. Com isso, fica garantido o contraditório no interrogatório, podendo as partes fazer perguntas e reperguntas.
O tráfico internacional continua a ser da competência da Justiça Federal.
Pelas leis antigas, quando uma comarca não tivesse instalado a vara, a Justiça Estadual julgaria o crime. Pela nova lei, será da vara federal mais próxima a competência para o julgamento dos delitos dessa natureza.


na íntegra:
http://conjur.estadao.com.br/static/text/47674,1

22 de ago. de 2006

hip hop e eu (final)

Mais frases extraídas do livro “Hip Hop e Eu”, de Sérgio Ezequiel de Souza. Agora do Quarto Capítulo em diante:

“Minha irmã começou a namorar um cara com o nome de Sidnei. (...) Ele começou a ir em casa direto e num desses dias...
...
Fumávamos um baseado e trocávamos idéias sobre o crime, quando ele falou... (...) E eu chamei-o para fazer outros comigo no Centro.”

“... e tirei toda a gaveta do caixa para fora.
...
Fui catando e colocando no bolso e o Sidnei já foi indo para a porta da perfumaria, que tinha vários espelhos. Peguei todo o dinheiro e saímos.”

“Quando você é um ladrão que não dá vacilo com ninguém você é considerado em qualquer quebrada.”

“Fomos atrás do Marquinhos Gambá onde ele trabalhava de mecânico, e trocamos umas idéias sobre armas para o assalto.
...
E começamos a discutir como iríamos enquadrar (assaltar) o mercado.
...
Chegamos ao local do assalto. O mercado ficava numa avenida bem movimentada...
...
Quando o Sidnei fingiu passar pelo caixa, eu dei voz de assalto, já com o revólver na mão. O Gustavo já arrancou a 12 e ficou na porta para ninguém sair. O Sidnei abriu a maleta e foi pegando o dinheiro que estava nos caixas.
...
Corremos para o carro. O Marquinhos já foi ligando rapidamente o carro e saiu cantando pneu.”

“Começamos a repartir as notas maiores quando o Marquinhos percebeu vários carros parando em frente à casa e pediu para o Gustavo ir ver o que estava acontecendo. Quando o Gustavo estava se aproximando, os policiais arrombaram o portão e foram entrando. (...) Eu corri até um quarto quando dei de cara com um policial encapuzado dizendo para que eu soltasse a arma. Eu soltei. Ele mandou que eu deitasse no chão. Deitei. Um outro policial já veio me algemando.”

“Chegamos na Décima. Tinha muitos policiais e a imprensa e a televisão já estavam lá.”

“Sidnei, Marquinhos e o Gustavo, que eram maiores de idade, foram para o Terceiro Distrito e eu fui para o Segundo Distrito que chamavam de CETREM (Centro de Triagem e Recepção de Menores).”

“Chegou minha vez de entrar. Pedi licença. A promotora olhou na minha cara e disse: ‘Sérgio Ezequiel de Souza, você pediu licença quando entrou para assaltar o supermercado?’ Respondi que não. Ela falou ‘157, né?’ Balancei a cabeça afirmativamente. Então ela falou ‘tira esse moleque da minha frente!’ Minha mãe começou a chorar.”

Bom, daí em diante nosso personagem passa 44 dia no X, começa estudar, fazer terapia, mas ao mesmo tempo, a traficar. E a coisa realmente vai ficando pesada – mais pesada ainda. E foi em uma dessas que, tendo de pagar pela maconha que lhe foi roubada, voltou a assaltar. A polícia o prendeu novamente, só que desta fez ele já tinha completado 18 anos e foi parar no presídio comum. E passar pelo sistema prisional no país é traumático. E de lá não se sai incólume.
Sérgio teve a sorte de ter sido assistido pelo marido da psicóloga que o acompanhava na escola. E prometeu não mais voltar à prisão.
Já fazia algumas apresentações de Hip Hop no colégio em que estudava, começou a ensaiar, se apresentar e isso coincidiu com a campanha e a vitória do PT na cidade, que começou a dar ênfase na inclusão social e na cultura Hip Hop, apoiando shows, encontros e gravação de cds.
Sérgio montou seu grupo, teve projetos aprovados. Foi convidado a ser professor do mesmo lugar onde já estivera uma vez, como menor infrator. Viajou bastante por conta do Hip Hop, etc.
Dessa autobiografia, sem dúvida, as páginas mais tocantes são aquelas que expõem a situação dos meninos de periferia, de forma geral. E, por mais que se condene a violência e o uso de drogas, não há como condenar essas crianças, que são frutos da desigualdade social. Em um país em que – infelizmente – a miséria é tratada como produto de manipulação de políticos e mercadores que se servem dela para se manterem no poder.
Por fim, sem ter outro modelo para se espelhar, ou porque, ao se afastar da miséria, do crime e das drogas, o novo status social lhe foi suficiente para satisfação de seus anseios, Sérgio, ao final do texto, mostra sua ideologia:

“..., pois depois que deixei as drogas e comecei a cantar e fazer esses trabalhos sociais comecei a ver o mundo com outros olhos sem muito preconceito contra a elite.”

“Não só através do Rap mas também com as oficinas de Break eu consigo alcançar meu objetivo que é fazer com que essas pessoas procurem pensar mais na vida, procurarem uma escola para estudarem, largarem o mundo do crime e começarem uma nova vida como eu comecei...”

Nessas alturas, o leitor que conseguiu chegar até aqui já estará curioso por ler o livro, mesmo sabendo que há erros crassos de gramática e que há, afinal, uma moral da história. Mas que nem uma coisa nem outra impedem a fruição de sua leitura, que é uma história comum entre a massa de excluídos, hoje em dia. E que nós, que nos sentimos tão ameaçados, não temos a mínima idéia como é que ela se desenrola.

hip hop e eu (continuação)

13 de ago. de 2006

Theodore de Bry (cerca de 1540)


INDIOS: UM PENSAMENTO SELVAGEM.

INDIOS: UM PENSAMENTO SELVAGEM.

Infelizmente não tenho como dar agora a referência de onde eu aprendi isso que vou lhes contar. Falta de método acadêmico para anotar os referenciais ocasiona de perda de memória. Muitas coisas acontecem assim comigo. São logo incorporadas, passam a ser minhas. Algumas realmente são. Mas o que eu vou escrever agora trata de um fato de interpretação histórica. E eu só posso conjecturar que se trata da verdade, pois em nenhum momento nega – ao contrário, reforça – aquilo que sou em relação ao mundo que vivo, contribuindo com aquilo que faço.

De qualquer forma, a idéia de um “pensamento selvagem” está ligada às questões antropológicas do francês Claude Lévi-Strauss (1983/1975) e quem tiver interesse de pesquisar é só procurar na internet que vai achar um monte de links ligados ao tema. Um deles é o http://hemi.nyu.edu/archive/studentwork/conquest/pens1.html

Peço a quem souber quem “botou o ovo em pé”, originalmente, falando sobre isso, que me passe as referências, para que possamos ampliar esse debate. Aliás, até porque ele saiu de uma discussão com um marxista e eu não queria ficar mal com o marxismo só porque eu não penso que tudo está atrelado à lógica da produção, do sistema de classes e da mais-valia e do capital. Aliás, porque a nossa lógica cartesiana não dá conta desse tipo de pensamento que aqui eu chamo de “selvagem”. Sem desmerecer Marx, por favor!
Vamos lá:

A Antropofagia – ou seja, o ato ritual de comer carne humana praticado por algumas tribos indígenas que habitavam esse solo antes de se chamar Terra do Pau-brasil – como pensamento que marca a identidade cultural nacional e em torno da qual se reuniram os artistas e intelectuais à época da fundação do modernismo brasileiro (não para comer carne humana, mas para “deglutir” as experiências de outras culturas), é o começo dessa idéia. Mas ela se amplifica, na medida em que a finalidade da “antropofagia” não era vencer o inimigo, matando-o, mas de usá-lo como “banco de esperma” que garantisse a continuidade da espécie, ampliando as combinações genéticas da tribo.
Como todos sabem, um dos tabus encontrados em quase todas as nações e etnias, as mais distintas, no mundo todo, é o da procriação entre parentes de laços familiares muito íntimos, como pai com filha, filho com mãe, etc. Laços consangüíneos enfraquecem a espécie. E na natureza vencem os mais adaptados.

Os índios brasileiros não tinham, aparentemente, porque lutar entre si. Não precisavam disputar territórios, não precisavam disputar alimentos. Viviam da caça e da coleta. E eram nômades. Hoje, aqui, tem mandioca. Amanhã, lá, vai ter outro alimento que se pode tirar do pé. E quando voltavam aos lugares, tinham, de novo, a mandioca, ou o pinhão, ou o que fosse. Eram observadores. Sabiam o ciclo da natureza. Não precisavam se matar como agricultores. Acumular. Tinham o livro da natureza nos sentidos. Viviam em relação orgânica com a natureza. A idéia de trabalho, para eles, não fazia o menor sentido. Tanto que os portugueses tiveram de trazer os negros para cá, porque os índios só conheciam o tempo mágico dos mitos e não a realidade servil e classista, dos direitos trabalhistas, da resistência ao poderio europeu, etc.
Para o índio não havia diferença entre arte e vida. Tudo era parte de um mesmo processo ritual. Pintar o corpo, dançar, caçar, pescar, comer, cantar, tudo isso era indistinto, não havia categorias dessa espécie que nos acostumamos a conviver.
E por que lutavam entre si, então? Para ver quem era o mais forte. Para que o mais valente de uma tribo capturasse um valente de outra tribo, vivo, e o trouxesse à sua tribo, deixando-o livre para ir embora, se quisesse. Mas isso seria uma desonra para o índio capturado. E na outra vida iam cobrar isso dele. Foi por isso que o aventureiro mercenário alemão Hans Staden (c. 1525-1579 ou 1510-1557) conseguiu fugir dos Tupinambás e escrever seu relato: ele cagou nas calças! E um índio jamais iria comer um covarde!
Uma vez na tribo inimiga, tratavam o índio capturado da forma mais gentil possível. Davam-lhe a melhor comida, o melhor espaço na maloca e as mulheres aptas à procriação. Para que tomasse gosto pela vida. E tivesse vontade de escapar.
Quando, enfim, chegava o dia de sua morte, o índio que o havia capturado amarrava em uma de suas mãos a mão do inimigo. E dava a outra mão para seu melhor amigo, que a amarrava à sua mão, ficando, assim, o índio capturado preso pelas duas mãos dos oponentes. Na mão que sobrava de cada índio, portava-se bordunas para arrebentar o índio preso. Segundo Montaigne (1533-1592), em seu célebre ensaio “Dos canibais” – onde defende os índios, dizendo que os horrores cometidos pelos europeus eram muito piores do que a acusação que lhes pesava, como a de andarem nus, não trabalharem e a de comerem carne humana – havia uma espécie de canto/diálogo entre os oponentes relatado no texto. Retomado mais tarde pelo escritor Goethe (1749-1532), que era mais ou menos assim:
- Gostou da nossa comida?
- Muito ruim.
- Gostou das nossas mulheres?
- Muito Feias.
E então batiam nele com a borduna até o derrubarem. Antes, porém, de o matarem, ele dizia (aqui, sim, Goethe via Montaigne):
- Comam, comam da minha carne. Nela vocês sentirão o gosto da carne do pai de vocês. Comam, comam minha carne, para que o meu filho sinta na carne de vocês o gosto da minha carne.

Nem vou entrar aqui na questão da hóstia sagrada e tudo o mais. Nem vou continuar a falar sobre o significado da palavra Tupã, para os índios, que tem a ver com a reverberação que o som do trovão faz no corpo de cada pessoa, como se esta fosse um instrumento que se afinasse, como uma flauta. Mas gostaria de deixar o meu pensamento no corpo desse texto para que fosse devorado, refletido e devolvido à vida, de forma antropofágica. Como filho amado de um inimigo.

trecho do livro "o hip-hop e eu

Eu tive um professor de história no cursinho, em 1999, que dizia, sobre a violência que chegou à cidade de Londrina depois, principalmente, de 1975, quando a mono-cultura de café foi substituida pela mono-cultura de soja, devido ao inchaço promovido pelo desemprego no campo, que "a primeira geração de miseráveis pede, a segunda geração rouba e a terceira geração mata".
Lendo o livro "O hip-hop e eu - uma biografia", de Ségio Ezequiel de Souza, "Sergin", patrocinado pelo PROMIC-Secretaria de Cultura de Londrina e editado pela Artito Art, a frase do professor acabou sendo recheada com as cenas narradas pelo personagem/autor, nascido em 1980, que viveu essa realidade na carne, na periferia de Londrina, tendo que mudar, constantemente, de um lugar a outro, com a mãe e irmãos, indo morar em lugares cada vez mais desumanos.
Ainda não terminei de ler o livro, mas vão aí algumas frases, tiradas aleatoriamente de dentro dele:

"...na falta de um pai ou de um padrasto e, na ausência de minha mãe, o 'homem' de casa era eu, que tinha apenas 6 anos."

"...chegávamos nas barracas da feira e espiantávamos os caixas dos comerciantes e até as carteiras das pessoas que estavam comprando...
furtávamos tudo o que podíamos levar. Tudo isso era para curtir o Flash Dance aos domingos à tarde."

"comecei a ficar desesperado vendo minha irmazinha mais nova - Andressa - chorando de fome, querendo leite."

"O policial encapuzado deu várias borrachadas nas minhas costas, enquanto dois me seguravam e o sargento Félix fazia uma pressão psicológica com a pistola."

"O pai do Paçoca via tudo aquilo e nem ligava. Tudo alí parecia normal: fumar um baseado na rua, a molecada cheirando cola, as meninas fazendo sexo com uma 'pá de caras' (sexo grupal). E eu e o Marciano alí no meio daquele furacão."

"Ele disse 'Eu vou chegar, abro o carro e você cai pra dentro. Você olha debaixo dos bancos enquanto eu arranco o toca-fita'. (...) O Piá arrancou o toca-fita e eu só achei uma faca."

"Quando o carro era mamão, era eu que cantava a micha (a micha 'canta' qundo faz um barulhinho característico, como um metal raspando em outro, ao abrir a porta)."

"E fomos então para o União da Vitória (morar com a família), o bairro tão falado na mídia pelo alto índice de criminalidade".

"O moleque então armou uma casinha (ou seja, uma emboscada) para que um outro cara, chamado Deílton, me catasse e me desse umas facadas."

"Com uma ano e meio, eu e minha família morando naquele cômodo... perdi todas as esperanças de alcançar algum objetivo na vida."

"Com toda a confusão, não se podia confiar em ninguém. Esta foi a primeira coisa que eu aprendi no união da Vitória. A segunda é que eu tinha que andar armado, ou com os caras que faziam as fitas erradas (as fitas são os roubos e furtos) para ser respeitado. E, terceiro, não se fica devendo droga para ninguém, especialmente aos traficantes. Ainda há uma quarta regra: não se deve envolver com qualquer mina, pois havia muitas mulheres de ladrão; ese envolver com qualquer uma delas era morte na certa. e assim ditavam as regras paraser um malandro esperto!"

"Então arranquei da cinta o que eu tinha achado na mansão.. Os caras cresceram os olhos e começou a discussão para saber quem ia ficar com a arma. Eu propus então que não queria nada dos objetos roubados. Só o 38."

"Nós roubávams todos os boyzinhos que encontrávamos pela frente. Ás vezes não precisava nem scar o revólver. Bastava mostrar o cabo erguendo a camiseta. Eles tremiam na base! E já tiravam o boné, o tênis e até trocavam de roupas com a gente, dependendo do local."

"Então dei a primeira bola e notei imediatamente que minha boca e minha garganta adormeceram. O coração disparou. Minhas mãos ficaqram tremendo. (...) Eu tinha a impressão de escutar tudo muito longe."

"E passei a furtar para manter o vício."

"Com alguns meses andando direto com os caras que fumavam mesclado, em vendi minha arma em troca de uma quantidade de pedra (nóia); e tive meu primeiro contato com a nóia pura, queimado no cachimbo ou em latas de refrigerante."

"Eu já estava tão acostumado a ver corpo caído no chão que, quando via um, era como se fosse um bicho. Aliás, para mim, não fazia a menor diferença entre matar uma pessoa ou um animal. só sentia quando era um colega; ou de fumo, ou de curtição nas noites."

"Só sei que no União, e em qualquer periferia, ninguém morre de graça. O preço varia: de um real até o respeito conquistado na marra."

"E por causa de brigas assim aconteciam outras brigas, geralmente mais violentas. Pois os caras matavam o irmão de um outro que não era florde ser cheirada; e que, por sua vez, matavam aqueles que matavam seu irmão ou seu amigo. (...) Todo final de semana tinha um ou dois - ou até mais! - mortos na região da Zona Sul."

"Eu precisavva de dinheiro para pagar um cara que passava maconha. (...)
O assalto foi numa farmácia. (...)
Na minha cintura tinha um 38 e na do parceiro uma garrucha 38. (...)
Eu ficava o tempo todo pensando "Vai chover polícia!"

"Aí o noiado começou a me contar que o traficante do Santa Joana, que se chamava Baco, estava invocado comigo. Perguntei o motivo. Ele respondeu que a polícia estava atrás de mim na vila, e que estava queimando o ponto de tráfico do Baco no Santa Joana, ..."

"Aconteceu algumas vezes eu trocar meu tênis, minhas bermudas e camiseta por nóia. (...)
Eu mesmo já vi pai de família fumar o dinheiro do leite das crianças e até o enxoval do neném; do bebê dormir em carrinho, em vez de ter um berço. Já vi meninas grávidas trocando roupas de neném por nóia. ..."

Bom, parei aí no terceiro capítulo. depois tem mais.