27 de out. de 2010

MUDANÇA DE COMANDO NA GLOBO

Laerte Braga
Os estragos causados pelo episódio da bolinha de papel atirada contra o
candidato José FHC Serra são de grande monta na REDE GLOBO. A reação
indignada de alguns jornalistas, em São Paulo principalmente, a preocupação
com o bombardeio e desafios de outras redes em torno do noticiário do JORNAL
NACIONAL sobre o episódio, tudo isso e muitos fatos outros, estão levando a
direção geral do grupo a avaliar se promovem Ali Kamel para cima e afastam o
todo poderoso do departamento de jornalismo, ou se simplesmente entram num
acordo e Kamel vai cantar noutra freguesia.

A bolinha de papel não se desmanchou na água e acabou sendo a gota que faz
transbordar.

A decisão será tomada após as eleições. Carlos Augusto Montenegro, diretor
presidente do IBOPE, aumentou as preocupações do comando do grupo ao levar a
informação que a bolinha de papel terá custado alguns pontos preciosos a
José FHC Serra nas intenções de votos e Dilma teria hoje algo em torno de
16% de vantagem sobre o tucano.

O temor da GLOBO não está no fato do JORNAL NACIONAL ter apresentado um
parecer forjado em torno do incidente envolvendo José FHC Serra. A mentira é
intrínseca ao grupo. Mas no risco de crescimento das redes concorrentes. A
RECORDE a mais próxima nos números de audiência e no que isso pode
representar a curto, médio ou longo prazo para o [WINDOWS-1252?]"esquema"

O império de Roberto Marinho, pela primeira vez, parece estar sentindo o
golpe, se vendo nas cordas e apostando fichas numa improvável eleição de
José FHC Serra, mesmo assim, a um preço alto demais.

Para alguns setores do comando do grupo a empresa não é como VEJA. Tem
preocupações com o parecer ser e não pode entrar numa zona de turbulência
sem perspectiva de uma saída tranqüila. Ou pelo menos tenta fazer crer que é
diferenciada. Banditismo de estilo mais nobre. Sangue azul.

A sorte de Ali Kamel está ligada à eleição de José FHC Serra e a própria
GLOBO sabe que, a essa altura do campeonato, essa chance é mínima. Nem
coelho da cartola, nem uma legião de coelhos.

E há quem entenda que o diretor de jornalismo comprometeu a credibilidade da
rede e é preciso recuperá-la o mais rápido possível. O nível a que a grande
mídia, GLOBO à frente, levou a campanha, o mais baixo da história das
campanhas presidenciais no Brasil, pode afetar para além do JORNAL NACIONAL,
do departamento de jornalismo, todo grupo.

Um episódio mais ou menos semelhante aconteceu em 1982 quando Armando
Nogueira deixou o departamento de jornalismo da rede por conta do escândalo
da PROCONSULT. Àquela época o fato revestiu-se de tal gravidade que algo
inimaginável aconteceu. Brizola foi aos estúdios da GLOBO numa tentativa da
empresa de atenuar os prejuízos causados com outra tentativa, a de fraude na
totalização dos votos para o governo do estado do Rio.

Foi o primeiro momento na história de impunidade da GLOBO que a turma se viu
acuada.

Kamel não age sozinho e nem monta todo esse sórdido esquema de mentira à
revelia dos donos do império. Faz o que faz com aprovação dos senhores do
[WINDOWS-1252?]"negócio". A diferença é que os senhores do
[WINDOWS-1252?]"negócio" se preservam nos castelos do baronato Marinho e
têm, sempre, um bode expiatório à mão.

Sem falar nos interesses que acoplam a GLOBO a um todo que ultrapassa o
setor de comunicações. Os braços são longos a toda a atividade econômica no
País em se tratando de interesses escusos. Ou seja, há necessidade de
prestar conta aos que pagam e ditam os caminhos do grupo.

Nesta campanha eleitoral os interesses bilionários em jogo e a aposta de
todas as fichas na campanha de José FHC Serra parecem ter deixado cegos os
moradores do castelo e do PROJAC, uma espécie de centro de mentiras, boatos
e cositas más.

A turbulência chegou ao auge no laudo falso do perito Ricardo Molina,
prontamente desmentido pelas redes concorrentes e por um fenômeno que a
GLOBO ainda não absorveu inteiramente. A blogsfera. Ou seja, o conjunto de
blogs independentes de grandes e anônimos jornalistas ou não, a derrubar em
cima de cada mentira, a versão global.

Hoje o número de internautas no País é significativo, a repercussão dos
comentários em blogs, sites, portais, redes de comunicação acaba por criar
uma força quase tão poderosa quanto a GLOBO.

Quase tão poderosa? É a avaliação de alguns especialistas pelo simples fato
que, nesta eleição a candidata do PT vence por larga margem entre os
eleitores de renda mais baixa (políticas sociais de Lula) e o prejuízo à
GLOBO acontece nas chamadas classes médias, divididas entre os dois
candidatos e ponderável parcela escapando do fascínio do plim plim.

O poder aquisitivo dos brasileiros aumentou nesses últimos oito anos, há um
orgulho nacional com o papel do Brasil no mundo e o que esse novo perfil
provoca no mundo  da comunicação não foi ainda tratado corretamente pela
GLOBO, a mídia privada como um todo, não foi absorvido o que quer dizer que
nessa nova realidade ainda tateiam apesar de todos os esforços para diminuir
o impacto da transformação.

Foi visível na campanha de Obama, é visível na campanha de Dilma.

Tornou-se mais difícil mentir, enganar, características do grupo e da mídia
privada.

O que não quer dizer que até domingo, 31 de outubro, dia da votação, todo o
grupo não vá se empenhar na campanha de José FHC Serra e na onda de mentiras
e boatos que possam prejudicar Dilma Roussef.

Nem tem como. Equivaleria a um pouso de barriga e os riscos de um incêndio
são altos demais numa eventual mudança de posição (fora de propósito), ou
correção de rota para uma área neutra.

A gênese da GLOBO é a mentira e o DNA preserva suas principais
características até o último suspiro.

O que assusta os donos do "negócio" para além da derrota eleitoral?
Um monte de fatores.

Surge uma discussão no Brasil impensável há meses atrás, falo de proporções.
Até que ponto é possível a uma empresa/famílias manter o monopólio das
comunicações e associada a empresas outras (menores), mas fechando o cerco
em torno de quem ainda lê jornal impresso, revistas e que tais?

O que é de fato liberdade de expressão? A mentira? O engajamento em
interesses de grupos econômicos nacionais e estrangeiros (associados)?

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Em tempo: Não propugnamos a troca de 6 por meia dúzia, que significaria a
substituição do monopólio da Globo pelo monopólio da IURD-Edir
Macedo-Record. Pelo contrário, defendemos a pluralidade dos meios de
comunicação, ainda mais, em tempos de TV digital, o que exigirá
regulamentação de artigos da Consituição Federal, quem sabe, de um novo
marco regulatório da comunicação para dar conta das novas tecnologias [as
que existem e as que ainda estão para serem desenvolvidas].


Enviada por: Geo Britto <geobritto@ctorio.org.br>

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