14 de jul. de 2009

CENSURA NA CULTURA







Caros amigos

Repasso aqui carta de Hélio Leites manifestando suas críticas e indignação pela censura que recebeu no SESC-Campinas.

Manifesto aqui minha solidariedade ao artista/contador de histórias/desanimador de festas/fazedor de inutensílios e fundador da Associação Internacional dos Coleccionadores de Botão, aquele que nos ensinou as grandezas de valor escondidas nas casas de um botão.

Espero que as câmeras de vigilãncia, a psiquê e juízo dos seguranças e porteiros de museu, as leis de etiqueta e bons costumes, os contratos de direitos autorais, o autoritarismo das autoridades do meio de arte, a reserva de mecado, e qualquer outra invenção de controle e censura deixem de ser parâmetro para a fruição da experiência artística e suas singularidades existenciais de manifestação.

Goto
http://newtongoto.wordpress.com



---------- Forwarded message ----------
From: Katia Horn <katia@familiahorn.com.br>
Date: 2009/7/13
Subject: Fw: carta de Hélio Leites ao Sesc SP
To:


Queridos,
meu amigo Hélio Leites foi censurado e humilhado num encontro de contadores de histórias no Sesc-Campinas. Transcrevi a carta manuscrita que ele endereçou ao Presidente do Sesc São Paulo, que está anexada a este email, para que seja lida e divulgada. Esse tipo de tratamento precisa ser alardeado, para que não se repita, principalmente quando se trata de um artista do gabarito e importância do Hélio.
Indignada, assino embaixo.
Um abraço, Katia Horn
(como diz o Hélio, Ghandis coisa!)

Ao Sr. Presidente do Sesc

Danilo Santos de Miranda

Sesc - SP

ref.: "Sesc Campinas censura contador de histórias"

ou "a ditadura do Patrocínio"

ou "Era uma vez outra vez..."

ou "Solidariedade não dói."

Eu, Hélio Leites, contador de histórias de Curitiba-Pr, fui censurado no Sesc Campinas pela segunda vez. A primeira vez ocorreu no ano passado quando fui convidado a participar do I Encontro de Contadores de Histórias - organizado pela Cia Narradores Urbanos e impedido de participar do evento, quando me indispus com o funcionário Sérgio "Conceito", que me proibiu de vender minhas inutilidades artesanais nas dependências do burgo. A alegação foi que era proibida a comercialização de produtos no interior do Sesc, quando no entanto, era permitido vender coca-cola na lanchonete. Neste ano, sem justificativa aparente, tive meu nome censurado pela diretoria cultural do Sesc Campinas, no dia da abertura, no hall do teatro, apesar de meu nome constar na programação do evento. Eu lhe pergunto: até quando vai persistir essa censura? Vim à Campinas este ano porque, quando fui convidado para o evento, alegaram que o funcionário birrento tinha sido transferido para São Paulo. Deve, pensei, deve ter recebido uma promoção pelo seu auto desempenho. Ledo engano, a mágoa ainda lateja, e eu, que acreditava que ela saía na urina.

Nem sei se ele foi, mas deixou aqui sua escola, o ranço de sua intransigência ainda cheira no ar; a intolerância de sua disciplina ainda reverbera nas portas e guardas, bem como a soberba de sua ditadura ainda pulsa nos remanescentes, que me censuraram novamente. Impedir um velho de trabalhar no último ofício que a vida lhe reservou deve ser crime inafiançável moralmente, e passível, espero, de processo judicial. A humilhação, a decepção e a violência moral não tem preço. Quando se adquire cabelo branco, vem junto no mesmo pacote, imunidade para lamentar. Velho não tem vez, nem voz neste país, tanto que qualquer funcionariozinho com seu cetro de rádio-comunicador sente-se autoridade para praticar a censura. Se um Sesc desses, verdadeiro templo erigido ao Deus Comércio, proíbe um pobre artesão de contar histórias num evento coletivo, está no fundo demonstrando necessidade de reciclagem. Não é só lixo que se recicla, educação também. Revela ainda total incompetência para gerenciar conflitos, revela também sua truculência cultural e sua vaidade arrogante e deixa à mostra a ditadura do patrocínio. Quem paga pode censurar. A censura acabou no Brasil, menos no Sesc Campinas.

Depois de viajar sete horas de Curitiba à Campinas, arrastando bagagens e histórias pelas rodoviárias da vida e ser “barrado no baile” e impedido de comungar histórias com meus pares, lhe confesso que isso não me engrandece nenhum pouco, acredite, estou me sentindo um refugo. Uma tristeza profunda me abalou até as varizes e paira sobre o meu coração velho. O que me consola é uma réstia de esperança, nuvem que de Campinas vai até o Pilarzinho onde moro. E é essa nuvem de solidariedade que não me deixa abandonar essa profissão que amo e que o mundo me reservou. Contar histórias é a profissão mais antiga do mundo e a mais nova. Quando você não conseguir fazer nada na vida e nada em sua vida der certo, vá contar a história de seus fracassos. O povo adora ouvir histórias de fracassos dos outros que é pra não cometer os seus. Desisti sim, mas foi do Sesc Campinas, não dos outros “Sesquis” do Brasil, os quais espero que sejam mais dóceis, receptivos e amigos do que o Sesc Campinas.

Continuo levantando a bandeira de contador de histórias, com o propósito de juntar pessoas, falo de amizade, solidariedade, honestidade, auto-estima, terapias alternativas e vivências de humor, matéria prima tão em falta no mundo corporativista. Espero que este grito seja jogado no ventilador da internet e espalhe essa nuvem de esperança pelo ar. Para que nunca mais na história desse país, um velho precise se humilhar escrevendo um S.O.S. e colocando dentro de uma garrafa e jogando no mar. Só estou procurando dignidade. Alguém viu alguma por aí?

Saudações

Hélio Leites

“Solidariedade não dói”

Um comentário:

Katia Horn disse...

tá bem boca quente, mesmo!
grata pela divulgação!
um abraço,
katia