27 de out. de 2008

28ª bienal



Tapete de lã feito por Mircea Cantor, da Romênia (à esquerda) e o tobogã criado pelo belga Carsten Höller para a 28ª Bienal de São Paulo. Entre as diversas performances previstas para o evento, o paulista Maurício Ianês vai passar 13 dias no edifício sem roupas e sem dinheiro, vivendo exclusivamente do que há nele.


Impressões na abertura da Bienal

Fui de tarde na inauguração da Bienal deste ano e tinha muito pouca gente àquela hora. O segundo andar vazio e a idéia curatorial “em vivo contato” parecia pouco adequada ao que se via, ali. Principalmente depois que sai do prédio e, embaixo da grande marquise do parque Ibirapuera, lá fora, pulsava de gente brincando com skate, passeando de patins, namorando, vivendo, sem se perguntarem se aquilo era arte ou se a idéia de "em vivo contato" fazia algum sentido.

Tive a oportunidade de realizar uma entrevista com o curador-chefe, Ivo Mesquita, que, sentado em uma cadeira de rodas para se locomover, devido a uma torção no joelho dias antes da abertura da mostra, parecia incomodado com o lugar que ocupava.

A cada pergunta minha ele retornava fazendo outras perguntas, do tipo: por que uma bienal tem de ser cheia? Por que é necessário que a Bienal aconteça somente nesse espaço modernista? Nossa curadoria é uma crítica a tudo isso. E eu devolvia as mesmas perguntas. E ele respondia: não há labirintos de paredes para as crianças ficarem brincando, isso não é parque de diversão.

E eu apontei o tobogã que leva as pessoas do terceiro andar para o andar térreo e ele me fez mais uma pergunta, desta vez questionando sobre quais eram os acessos do prédio para pessoas deficientes, virando seu corpo em direção às imensas rampas. E eu disse para um Ivo Mesquita um pouco contrariado, que tinham escadas rolantes, também. E um elevador nos fundos do prédio, embora esse não fosse de acesso ao público. Mesmo assim, ele estava disposto a defender sua idéia que aquilo não era entretenimento e o tobogã era um meio de transporte.

Outra pergunta minha foi a de saber qual era o partido que ele tinha pensado para essa bienal, e ele me falou de arquivos, registros, memórias. Que era uma bienal para se pensar as bienais. O modelo no qual a bienal havia se constituído, enfim.

Tem razão ele quando diz que é memória o assunto dessa bienal, pois a maioria dos trabalhos são antigos conhecidos dos freqüentadores de museu e já mostrados em outros locais. Ou seja, pouca coisa foi realizada, mesmo, para a Bienal 2008.

Um dos trabalhos mais potentes, aliás, não é nem de artista, mas realizado sob encomenda para o evento, junto aos trabalhos de arte, que é um arquivo com a reprodução de livros e catálogos de várias bienais e mostras do mundo – como Veneza, Kassel e Bienal de São Paulo – que podem ser manipulados pelos visitantes.

O que fica evidente, porém, nessa 28ª edição, que ficou conhecida como a “Bienal do Vazio”, é que a curadoria privilegiou o domínio visual todo do terceiro andar – o único que tem obras de artistas visuais – com o design do mobiliário, aparentando um enorme display cujo padrão visual único achata as diferenças entre os trabalhos. Uma metáfora boa para se pensar o modo como se vê os trabalhos expostos: de cabeça baixa. O domínio de trabalhos mostrados e montados para serem visto de cima para baixo parece tornar tudo menor ainda, com espaços vazios engolindo tudo: instituição, obras, conceitos...

Se a questão dessa bienal era a produção de discursos, ao menos espaços é que não faltam. Além do térreo inteiro dedicado a palestras, encontros e shows, no terceiro andar também existe uma arquibancada para esse fim, em meio aos outros trabalhos de arte. Com uma programação intensa, não faltarão, para relaxar, aulas de dança e grupos musicais que se apresentarão durante vários dias dessa que será, também, a mais curta bienal da história das bienais de São Paulo, apenas 42 dias.

Uma coisa é certa. Se os debates não forem suficientes para preencher o vazio da bienal, pelo menos os pixadores já resolveram tomar para si uma parte de toda essa questão, pixando as paredes do segundo andar, em uma ação prevista, mas, infelizmente, sem que se tomassem cuidados para impedi-la. O resultado é que, a partir de ontem, domingo, a bienal ficou menos vazia. E seu resultado, enfim, um pouco mais polêmico.

Para finalizar, embora confortavelmente instalado na cadeira de rodas com motor elétrico, o curador Ivo Mesquita, ali, ocupava uma posição na qual ele mesmo parecia criticar, ou, senão, ao menos, questionar muito severamente.

Um comentário:

Paulo Briguet disse...

Olá, Rubens Pileggi.
Estou escrevendo um material sobre a Bienal de São Paulo - dita Bienal do Vazio - e gostaria muito de trocar umas idéias com você.
Fale comigo pelo fone 3377-3115, aqui em Londrina, ou mande um e-mail para briguet@jornaldelondrina.com.br
Um abraço.