16 de abr. de 2008

abril vermelho

16/04/2008 - 16h05

MST ocupa pelo menos 46 prédios públicos em 16 Estados para lembrar massacre de Eldorado do Carajás

Thiago Varella e Fabiana Uchinaka
Da Redação*Em São Paulo

Trabalhadores rurais ligados ao Movimento dos Sem Terra (MST) intensificaram nesta quarta-feira os protestos e as ocupações de terra e prédios públicos em 16 Estados e no Distrito Federal como parte da jornada nacional de luta pela reforma agrária, conhecida como "abril vermelho". Todos os anos o movimento lembra a morte de 19 trabalhadores rurais no massacre de Eldorado do Carajás (PA), em 17 de abril de 1996. Foram pelo menos 46 prédios públicos ocupados, entre bancos e órgãos estaduais e federais, seis fazendas invadidas e seis estradas bloqueadas.

Os manifestantes reivindicam o assentamento das 150 mil famílias acampadas no país, investimentos públicos em habitações para assentados e a criação de uma linha de crédito específica para a produção agrícola em assentamentos. Eles alegam que as famílias assentadas têm dificuldades para acessar o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Segundo o MST, o governo precisa acelerar os trâmites internos para os processos de desapropriação e aprovar o projeto de lei que determina que as fazendas que exploram trabalho escravo sejam destinadas para reforma agrária.

"A reforma agrária está parada no país por causa de uma política econômica que beneficia as empresas do agronegócio, concentra terras e recursos públicos na produção de monoculturas para a exportação", disse José de Oliveira, membro da coordenação nacional do MST.

Os protestos desta quarta-feira atingem Goiás, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Alagoas, Pernambuco, Pará, Sergipe, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Maranhão e Rio Grande do Norte.

Protestos nos EstadosMais de mil integrantes do MST ocuparam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Recife e em Petrolina, em Pernambuco, e 250 pessoas estão no prédio do instituto em Natal, no Rio Grande do Norte.

Cerca de 600 sem-terra e as viúvas dos agricultores assassinados em Carajás acampam em frente ao Palácio dos Despacho, sede do governo do Pará, e outros mil manifestantes estão acampados na curva do S, em Eldorado de Carajás, em memória aos assassinatos de 1996.

A sede da Caixa Econômica Federal no Distrito Federal foi ocupada por milhares de trabalhadores rurais, numa das maiores manifestações do dia, que terminou no final da tarde de hoje com uma audiência entre os representantes do movimento, o ministro Márcio Fortes (Cidades) e a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos. O MST exige o cumprimento de um acordo feito entre o Incra e a Caixa para a construção de 31 mil moradias em assentamentos rurais.

Em Goiás, os protestos começaram nas primeiras horas da manhã, quando cerca de 180 famílias bloquearam o tráfego na BR-153, próximo a Porangatu (400 km de Goiânia). O movimento promoveu mais três manifestações na região: parte da BR-060 foi fechada nas proximidades de Guapó, parte da Fazenda Rio Vermelho, no município de Crixás, foi ocupada e uma agência do Banco do Brasil na cidade de Bom Jardim foi invadida.

800 trabalhadores sem-terras estão no prédio do Ministério da Fazenda no Rio Grande do Sul e mais 350 deles ocuparam a Secretaria da Agricultura, na capital Porto Alegre. Eles cobram a desapropriação da Fazenda Southall, em São Gabriel, área de 13 mil hectares desapropriada em 2003 pelo governo federal, cujo processo está suspenso no Supremo Tribunal Federal (STF). A Procuradoria Geral do Estado entrou com um pedido de liminar à Justiça solicitando a reintegração de posse das áreas ocupadas e os manifestantes deixaram o prédio da Secretaria durante a tarde.

Em São Paulo, militantes do MST derrubaram parte de uma plantação de eucalipto na fazenda da AmBev, em Agudos, interior de São Paulo, para supostamente substituí-la por uma de alimentos. Cerca de 300 pessoas ocuparam uma unidade da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão público federal, em Bauru, por um programa de compra de alimentos produzidos em assentamentos. E o hall da Secretaria de Justiça, no Pátio do Colégio, foi ocupado por manifestantes do MST, da Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), da Federação da Agricultura Familiar (FAP) e da Organização de Mulheres Assentadas e Quilombolas do Estado de São Paulo (Omaquesp) que pedem a federalização dos hortos florestais. Três agências bancárias no Pontal do Paranapanema, interior do Estado, também foram ocupadas por trabalhadores.

Manifestantes ocuparam a entrada do Porto de Maceió, em Alagoas, para defender a reforma agrária. O MST quer negociar com o governo do Estado terras do antigo Produban (Banco do Estado de Alagoas S.A). Em Jungueiro, uma área de 400 hectares foi ocupada por 200 famílias.

Em Sergipe, 150 famílias ocuparam a Agência do Banco do Nordeste em Carira, outras 150 ocuparam a Fazenda Oiteiro, em Siririzinho, mais 120 estão na Fazenda Samambaia, em Santo Amaro, e 220 famílias ocupam a Fazenda Brígida, em Estância. O MST lembra a morte do trabalhador Zé Emídio, morto na fazenda Santa Clara, em Capela.

Uma rodovia em Itaquiraí, no Mato Grosso do Sul, foi fechada e 250 famílias protestaram em frente ao Banco do Brasil. Em Campo Grande, 300 pessoas participam de audiência no Incra.

No Rio de Janeiro, cerca de 150 trabalhadores rurais interditaram a Via Dutra, na altura do KM 242, sentido São Paulo, antes de serem expulsos pela polícia e houve protestos em agência da Caixa em Volta Redonda e em Campos, interior do Estado. A Estação Experimental Manoel Machado da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola está ocupada por 200 famílias desde segunda-feira.

Manifestações em agências bancáriasNo Maranhão, uma agência da Caixa foi ocupada e houve protesto no Ibama da região para exigir a imediata interdição da carvoaria da Vale, próximo ao assentamento Califórnia.

Manifestações também foram registradas em agências da Caixa e do Banco do Brasil nas cidades de Pinheiros, Pancas, Santa Teresa, Cachoeiro do Itapemirim, São Mateus e São José do Calçado, todas no Espírito Santo; em Rio Negrinho, Canoinhas, Curitibanos, Caçador e em Lebon Regis, municípios de Santa Catarina; e em 14 cidades do Paraná.

A assessoria de imprensa do Banco do Brasil informou que houve manifestações em 13 agências em todo país, que ficaram parcialmente bloqueadas até o fim do expediente bancário. Em Curitiba, os gerentes receberam os líderes do movimento, que entregaram uma pauta de reivindicações, que será entregue às autoridades competentes.

No Mato Grosso, cerca de 350 famílias estão acampadas na Caixa, em Cárceres. Uma audiência com o Incra da região foi marcada para a tarde de hoje e o MST pretende cobrar o assentamento de 3.500 famílias.


*Com informações da EFE e da Agência Estado, colaborou Sebastião Montalvão em Goiânia

Bem, parece que para ter informação séria tem que ter uma EFE na jogada, porque a imprensa brasileira não costuma dar esse tipo de tom em matérias sobre o MST.

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