27 de jul. de 2008

ideologias entre a justiça e a lei



Tentarei ser breve e sucinto, mas prometo voltar ao assunto antes que ele se perca na poeira dos fatos. é o seguinte: a polícia entrou na rocinha matou três e deixou escapar o suspeito a quem procurava, um tal de Nem, que é trabalhador de vendas de drogas (traficante para a imprensa banana, comerciante pelos usuários).

Dá vontade de condenar o cara, de primeira, porque ele controla o bairro/favela/comunidade da Rocinha, no rio de janeiro, com câmeras pela entrada do morro e como armas, para quem não obedecer às leis ditadas por ele e seus colaboradores.

A polícia entrou em sua casa – uma mansão para os padrões locais, segundo a imprensa – e lá descobriram uma carta onde era ditado que todos deveriam votar no candidato da comunidade. Quem não fizesse isso seria castigado.

Isso deu em todos os jornais daqui do Rio. Pois bem.

As conclusões aparentes que se pode tirar daí é que traficante é bandido e, como todos sabem, ”bandido bom é bandido morto”, ainda mais traficante, criador de um poder paralelo sem limites na cidade maravilhosa. E, pior, fazer curral eleitoral é crime. Ainda mais para se colocar em cargos públicos e estratégicos políticos ligados ao narcotráfico. Políticos ligados às empreiteiras, não pode, mas ninguém liga. Políticos ligados aos latifundiários também não pode, mas não há ninguém que o diga. Mas alguém duvida que todos esses crimes de colarinhos brancos são igualmente executados por assassinos?

Muito que bem. Quem discordar pode me passar um e-mail.

Deu, também, em todos os jornais, que o tal candidato do tal traficante – Nem de tal (a foto dele é caricata nos jornais, o cara está mais cheirado do que o Collor nas áureas épocas) – é amigo do Zé Rainha. Sim, aquele de Pontal do Paranapanema. Do MST.

Antes de falar desse assunto em particular, porém, devo dizer que a atitude escorregadia tanto do MST e do Zé Rainha – ambos se dizendo desvinculados um do outro – é um modo até que esperto de não se queimarem, na medida em que a imprensa tenta ligar o MST ao tráfico de drogas e sua justa luta à mesma demonização que impõem às FARCs, da Colômbia.

Dizem que o MST está ligado aos traficantes assim como as FARCS estão ligadas ao narcotráfico na América Latina e que o Chavez está ligado às FARCS e, bem, quem não é idiota sabe do que estou falando: não querem reforma agrária na América Latina e não há interesse, por enquanto, na legalização da drogas.

Mas quem não quer? O videota que não consegue compreender o que o noticiário está dizendo atrás de uma notícia aparentemente objetiva ou aqueles que defendem o interesse imperialista e que se chafurdam no dinheiro, em nosso país? A começar por grande parte e pelos poderosos da imprensa.

Vamos deixar claro que isso ocorre em um momento em que três integrantes do MST foram condenados a pagar 5,2 milhões de Reais como indenização à Vale e que há um interesse ideológico de magistrados em condenar sumariamente o MST como um movimento de criminosos. O problema não é o MST. O problema é que essas pessoas não entendem de justiça, só de leis. E as usam interpretando-as conforme quer o capital, partindo de uma idéia de lucro e exploração da mais-valia e voltando as costas para as questões ambientais. Ora, o lucro e a exploração da mais-valia colocam a grande maioria da população impedida de usufruir das riquezas que o capital gera e isso cria injustiças. E o crime nasce daí. E então se criam leis para defender patrimônios privados.

Mas ninguém diz que isso é ideológico. O problema, é claro, é a ameaça que representa o Hugo Chavez e seus comparsas, que vão do Evo Morales às FARCS e, talvez, o Nem de Tal, que faz curral eleitoral no Morro para defender um candidato a vereador amigo do Zé Rainha, que é, ou foi do MST.

Acho que não voltarei ao texto para reescrevê-lo. Mas, claro, sempre estarei pronto para defender pontos de vista onde parece que ninguém percebe, mas que, no fundo, eu sei que todos sabem do que se trata. E tem gente, até, muito mais comprometida do que eu nesse tipo de equação e é para essas pessoas que eu dedico esse artigo, me comprometendo a não deixar essas questões em brancas nuvens enquanto esse solzinho barato da democracia, em sua aparência, dá-nos a ilusão de que somos livres.

Um comentário:

Anônimo disse...

seria esse nosso tempo, uma época de legitimação dos poderes paralelos ?
deslegislados que seguem construindo o imaginário de seus poderes contínuos ...

quando a ordem se faz em descontrole, resta nos reflexões sobre observações imorais ...

qual animal humano não arrependeu-se em conscientizar ?

sobras, vestígios, fósseis
repercussões, simulacros, verdades midiáticas

tudo que alimentou se alimentará