Talvez você já tenha recebido, via email, aquele pps (power point) sobre o despejo de dejetos na praia de Ipanema e Copacabana – e, por extensão, de todo o litoral nacional – que vem circulando na internet, pelo menos, há uns 3 ou 4 meses. Bem, ele fala dos emissários submarinos que levam todo o esgoto sem tratamento para meio do mar e sobre o fato de estarmos nadando no meio, literalmente, da merda. Recebo esses emails e fico me perguntando como eu, nos limites da minha condição pessoal e cidadão com deveres e direitos, posso fazer para mudar essa situação.
Venho pensando em uma forma de criar uma pressão para que se faça uma ou mais usinas de tratamento de esgoto em Copacabana e Ipanema, filtrando o composto orgânico, para transformá-lo em adubo, em esterco. E, além disso, na possibilidade de separar o lixo, reciclando-o, devolvendo-o à produção, mas nem coleta seletiva de lixo tem nesses dois bairros. Lá, hein?, onde o metro quadrado é dos mais caros não só do Brasil, mas do mundo. Um local com um monte de restaurante, lanchonete, prédio, carro, gente... e a praia, bem, depois das 6 horas da tarde fica simplesmente nojenta. Esse pps que falei no começo faz a denúncia disso, mas eu não sei, se o Sheik Batista não tiver uma solução onde ele possa ver ali um real ganho de grana, não sei se a gente tem força para pressionar o poder público para que se abra uma campanha pela limpeza de nossas praias.
Eu venho pensando que o Brasil precisa de se espelhar no que vem acontecendo agora nos países árabes, para derrubar nossas pequenas ditaduras, quero dizer, aquele poder que está cronicamente encastelado em algumas instituições e que precisa ser removido de lá, pelo bem da justiça, pelo bem do ambiente, pelo bem psicológico da nação. Dias atrás, vi duas matérias que me estarreceram. A primeira foi com um casal que quebrou uma agência do INSS, no sul. Eles não suportaram mais esperar para serem atendidos e criaram a confusão. Entrevistando o diretor do INSS local, a TV o mostrou dizendo que há muitos casos iguais ao do casal, mas, se todos fossem agir da maneira como agiram, o que iria acontecer? Para mim é líquido e certo. Tem é que tirar esse cara do comando do INSS. Ele é um incompetente. E ponto. Como é que ele justifica assim as lesões ao direito do contribuinte?
Outra matéria foi que o juiz do STJ, Marco Aurélio, não levou adiante a punição a um outro juiz de MG que declarou, em uma sentença de briga de casal, que a lei Maria da Penha era "diabólica" e "que o mundo é masculino e assim deve permanecer". A alegação de Marco Aurélio é de que o juiz, hoje em dia, não é considerado alguém mais neutro diante dos debates sociais e que pode, sim, expressar suas opiniões. Meu deus! A expressão da diferença deve ser conservada dentro do estabelecimento de normas que se ajustem ao comum. É só ler Rancière com um mínimo de cuidado. Esse comum não quer dizer que se o sujeito quiser matar o outro em nome do livre arbítrio, isso ele pode fazê-lo. Ainda mais se tratando de um juiz diante de uma lei estabelecida. E a lei Maria da Penha condena a violência contra as mulheres. E, principalmente um juiz que estiver contra isso e dando sentenças que são frontalmente contra essa lei, está, sim, cometendo um crime e deve ser punido. Ora, ele não está em um boteco, em situação privada, falando aos amigos que pensam como ele! O problema não é o juiz ter opinião própria, o problema é não levar em consideração a idéia do comum.
Normalmente eu sou um cara estourado, mas eu venho comendo sapo e mais sapo de motoristas que ultrapassam o sinal vermelho, de gente que joga o lixo na rua, de pessoas grossas e estúpidas sem a menor educação e consideração pelo outro, vizinhos adestrando cães aos berros na frente de minha janela, do mau atendimento crônico por parte de cobradores, taxístas, policiais, servidores públicos e privados e garçons da cidade que, ou eu viro Zen de vez ou eu vou ficar estúpido como eles. À massa lhes é dada música repetitiva e barulhenta, TV de canal aberto de baixíssimo repertório e um jornal de direita, positivista, progressista e moralista. É essa a paisagem que a gente tem de enfrentar.
Não é que o casal que quebrou a agência do INSS esteja certo. E eu nem sei quem foi e por que veio à tona a lei Maria da Penha no processo da mulher com seu (ex?) companheiro. Mas eu acredito que é preciso ter sensibilidade o suficiente para garantir o direito do fraco sobre o forte, inclusive, nos moldes colocados pelo novo juiz do STJ, Luiz Fux, durante a sabatina de sua posse, no Senado, que eu assisti pela TV Senado. A instituição deve acolher, e não isolar ainda mais o fraco que se volta contra a força opressora da lei.
Quanto a mim, só posso agir assim, também, pelo menos enquanto me sinto lúcido e parte de um sistema institucional. Mesmo que a sociedade seja, aos olhos dela mesma, apenas uma massa de manobra de Sheiks e políticos progressistas (no sentido positivista de ordem e progresso) de todos os matizes. Agir contra a paisagem, mas contra, colocando-a de fundo para as minhas figurações, não a negando, porque assim seria anular minha condição institucional. Minha identidade de cidadão, tornando-me "o garçom de costeleta do sistema da babilônia", como já disse o Oswald de Andrade sobre a sociedade de sua época.
Odeio nadar sabendo que tem merda na praia que eu frequento, mas, por sorte do destino, aprendi a ser menos duro e rígido também, comigo. E para não ser o chato ecológico que fuma escondido, o religioso perverso, o buda alienado, o comunista autoritário e nem o ativista impotente que se deixa capturar por mecanismos de poder, sem se aperceber dessa ocorrência, eu tenho sido, assim, uma espécie de ermitão, de eremita, mantendo ao máximo possível a austeridade. Até porque sempre fui pobre. Até porque sempre quis que a arte se fundisse à minha vida e, de alguma forma amalgamada, esse estado pudesse me completar em todos os sentidos: físicos, materiais e espirituais.
Acho que é uma questão de educação, acho que é uma questão de política pública, acho que é uma questão pessoal, mas acho, também, que devemos nos organizar coletivamente para questões pontuais, fazer nossas ações se voltarem para a paisagem real, a que se esfrega em nossa carne, em nossos ossos, em nosso olhos. Pelo direito à cidadania e contra os poderes de exceção, porque esses, com a força dos aparatos de poder, apenas cultivam o desenvolvimento das exclusões. Contra naquele sentido descrito acima, porque, assim, não é na sucessão dos acontecimentos que desenvolvemos nossas estratégias - que podem ser, inclusive, a de permanecer inativo - mas na própria simultaneidade entre o que sou eu e o que me representa. Isso, finalmente, não tira a merda da praia, mas evita que eu me confunda com ela.
Venho pensando em uma forma de criar uma pressão para que se faça uma ou mais usinas de tratamento de esgoto em Copacabana e Ipanema, filtrando o composto orgânico, para transformá-lo em adubo, em esterco. E, além disso, na possibilidade de separar o lixo, reciclando-o, devolvendo-o à produção, mas nem coleta seletiva de lixo tem nesses dois bairros. Lá, hein?, onde o metro quadrado é dos mais caros não só do Brasil, mas do mundo. Um local com um monte de restaurante, lanchonete, prédio, carro, gente... e a praia, bem, depois das 6 horas da tarde fica simplesmente nojenta. Esse pps que falei no começo faz a denúncia disso, mas eu não sei, se o Sheik Batista não tiver uma solução onde ele possa ver ali um real ganho de grana, não sei se a gente tem força para pressionar o poder público para que se abra uma campanha pela limpeza de nossas praias.
Eu venho pensando que o Brasil precisa de se espelhar no que vem acontecendo agora nos países árabes, para derrubar nossas pequenas ditaduras, quero dizer, aquele poder que está cronicamente encastelado em algumas instituições e que precisa ser removido de lá, pelo bem da justiça, pelo bem do ambiente, pelo bem psicológico da nação. Dias atrás, vi duas matérias que me estarreceram. A primeira foi com um casal que quebrou uma agência do INSS, no sul. Eles não suportaram mais esperar para serem atendidos e criaram a confusão. Entrevistando o diretor do INSS local, a TV o mostrou dizendo que há muitos casos iguais ao do casal, mas, se todos fossem agir da maneira como agiram, o que iria acontecer? Para mim é líquido e certo. Tem é que tirar esse cara do comando do INSS. Ele é um incompetente. E ponto. Como é que ele justifica assim as lesões ao direito do contribuinte?
Outra matéria foi que o juiz do STJ, Marco Aurélio, não levou adiante a punição a um outro juiz de MG que declarou, em uma sentença de briga de casal, que a lei Maria da Penha era "diabólica" e "que o mundo é masculino e assim deve permanecer". A alegação de Marco Aurélio é de que o juiz, hoje em dia, não é considerado alguém mais neutro diante dos debates sociais e que pode, sim, expressar suas opiniões. Meu deus! A expressão da diferença deve ser conservada dentro do estabelecimento de normas que se ajustem ao comum. É só ler Rancière com um mínimo de cuidado. Esse comum não quer dizer que se o sujeito quiser matar o outro em nome do livre arbítrio, isso ele pode fazê-lo. Ainda mais se tratando de um juiz diante de uma lei estabelecida. E a lei Maria da Penha condena a violência contra as mulheres. E, principalmente um juiz que estiver contra isso e dando sentenças que são frontalmente contra essa lei, está, sim, cometendo um crime e deve ser punido. Ora, ele não está em um boteco, em situação privada, falando aos amigos que pensam como ele! O problema não é o juiz ter opinião própria, o problema é não levar em consideração a idéia do comum.
Normalmente eu sou um cara estourado, mas eu venho comendo sapo e mais sapo de motoristas que ultrapassam o sinal vermelho, de gente que joga o lixo na rua, de pessoas grossas e estúpidas sem a menor educação e consideração pelo outro, vizinhos adestrando cães aos berros na frente de minha janela, do mau atendimento crônico por parte de cobradores, taxístas, policiais, servidores públicos e privados e garçons da cidade que, ou eu viro Zen de vez ou eu vou ficar estúpido como eles. À massa lhes é dada música repetitiva e barulhenta, TV de canal aberto de baixíssimo repertório e um jornal de direita, positivista, progressista e moralista. É essa a paisagem que a gente tem de enfrentar.
Não é que o casal que quebrou a agência do INSS esteja certo. E eu nem sei quem foi e por que veio à tona a lei Maria da Penha no processo da mulher com seu (ex?) companheiro. Mas eu acredito que é preciso ter sensibilidade o suficiente para garantir o direito do fraco sobre o forte, inclusive, nos moldes colocados pelo novo juiz do STJ, Luiz Fux, durante a sabatina de sua posse, no Senado, que eu assisti pela TV Senado. A instituição deve acolher, e não isolar ainda mais o fraco que se volta contra a força opressora da lei.
Quanto a mim, só posso agir assim, também, pelo menos enquanto me sinto lúcido e parte de um sistema institucional. Mesmo que a sociedade seja, aos olhos dela mesma, apenas uma massa de manobra de Sheiks e políticos progressistas (no sentido positivista de ordem e progresso) de todos os matizes. Agir contra a paisagem, mas contra, colocando-a de fundo para as minhas figurações, não a negando, porque assim seria anular minha condição institucional. Minha identidade de cidadão, tornando-me "o garçom de costeleta do sistema da babilônia", como já disse o Oswald de Andrade sobre a sociedade de sua época.
Odeio nadar sabendo que tem merda na praia que eu frequento, mas, por sorte do destino, aprendi a ser menos duro e rígido também, comigo. E para não ser o chato ecológico que fuma escondido, o religioso perverso, o buda alienado, o comunista autoritário e nem o ativista impotente que se deixa capturar por mecanismos de poder, sem se aperceber dessa ocorrência, eu tenho sido, assim, uma espécie de ermitão, de eremita, mantendo ao máximo possível a austeridade. Até porque sempre fui pobre. Até porque sempre quis que a arte se fundisse à minha vida e, de alguma forma amalgamada, esse estado pudesse me completar em todos os sentidos: físicos, materiais e espirituais.
Acho que é uma questão de educação, acho que é uma questão de política pública, acho que é uma questão pessoal, mas acho, também, que devemos nos organizar coletivamente para questões pontuais, fazer nossas ações se voltarem para a paisagem real, a que se esfrega em nossa carne, em nossos ossos, em nosso olhos. Pelo direito à cidadania e contra os poderes de exceção, porque esses, com a força dos aparatos de poder, apenas cultivam o desenvolvimento das exclusões. Contra naquele sentido descrito acima, porque, assim, não é na sucessão dos acontecimentos que desenvolvemos nossas estratégias - que podem ser, inclusive, a de permanecer inativo - mas na própria simultaneidade entre o que sou eu e o que me representa. Isso, finalmente, não tira a merda da praia, mas evita que eu me confunda com ela.
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