18 de nov. de 2009

Debate sobre reforma agrária na mtv


Assiti a um trecho de um programa do cantor Lobão, que agora faz as vezes de mediador de debates, no qual o assunto era "O MST é um movimento legítimo?". De um lado um representante da UNE, o Doutor Rosinha do PT do Pr e um amigo do MST, que milita em movimentos sociais. Do outro, o conhecido Deputado Ronaldo Caiado, da UDR, um rapaz do "Endireita Brasil" e outro garoto, sei lá, defensor do latifúndio e satanizador do MST, tanto quanto da esquerda, e "desses comunistas que querem transformar o Brasil em uma sucursal de Cuba, onde reina aquele ditador do Fidel Castro, aqui não é a Rússia, não, e..." (bem, acho que todos entenderam a composição da mesa).
Obviamente não se chegou a nenhum consenso como ingenuamente propôs Lobão, clamando pelo entendimento de ambas as partes "sem picuinhas" e na "base do olho no olho", simplesmente porque a questão é uma disputa de espaços de poder e vai ganhar quem estiver mais organizado e quem conseguir expulsar, pelo voto e pelas armas das idéias, o outro, da arena de disputa.
O assunto ficou naquela repetição de bordões entre um lado que defendia o direito à terra e o outro lado, chamando o MST e seus aliados de arruaceiros que só querem implantar o comunismo no Brasil, com esse PT de vagabundos e... (bem, o nível de debate que já nos acostumamos, quando se fala de dividir as terras, no Brasil).
Algumas colocações da direita me parecem tão arcaicas, batidas e reacionárias que ou é preciso ser bastante imbecil para embarcar nesse papo de perigo comunista, ou malvado, de fato, com interesses flagrantes contra a grande maioria da população. Mas esses são, no máximo, 5.000 famílias, umas 30.000 pessoas. As que detém 45% da riqueza nacional. Para os outros 191.995.000 de pessoas restantes, não ha vantagem nenhuma em admitir que só os que são herdeiros possam se beneficiar de tudo o que o mercado oferece, enquanto a maioria do país, pobre, passa necessidade.
Mas a questão não é só essa. Isso o Dr Rosinha e os outros defenderam muito bem, lá no programa do Lobão. A questão é de que o conceito de terra improdutiva não é só o de terras que estão sem plantação, porque isso acaba gerando mais devastação, ainda, no pouco que ainda resta de floresta. O conceito de terra improdutiva deve ser levado - como observa o professor Ariovaldo Umbelino, calcado em leis - na consideração sobre o que o uso da terra produz socialmente e ambientamente. Ora, se a terra só serve para produzir grãos para exportação, não gerando riqueza social à sua volta, não será assim, com bois pastando entre cercas, que a paz há de chegar nem campo, nem tampouco à cidade, uma vez que a violência urbana é consequência direta do latifúndio e da monocultura extensiva concentrada nas mãos de poucos privilegiados.
No fim, ainda, o moleque da direita me sai dizendo que "o mercado é para todos" e eu, antes de desligar a TV, ainda pensei, mas por que é que o tema não foi "o latifúndio é legítimo no país?", ao invés da pergunta ser voltada, novamente e mais uma vez, pela imprensa, ao MST.
Depois de mais de 500 anos de senhores de engenho gananciosos pelas riquezas extrativistas, "os escravos venderão seus donos e criarão asas", como diz a frase final do filme "Cobra Verde", de Win Wenders. E é exatamente isso que estamos começando a aprender a fazer, hoje em dia. E quem prova do gosto do mel e do sangue jamais esquece o sabor.

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