O jornalismo se acostumou, no senso comum, a não mais pensar nem refletir sobre as questões ideológicas que movem as ações no campo da política. Em verdade nem precisaria dizer isso, basta ver as manchetes dos noticiários mais influentes do país - de Veja à globo, de Folha de São Paulo ao jornaleco mais merreca de qualquer cidadezinha do interior - condenando frontalmente e sem nenhuma consideração, as atitudes de Evo Morales, Hugo Chavez, Rafael Correa, Bachelet, Kirchner e, até o Lula.
Principalmente condenando Evo e Chavez.
É ridículo. Quando as ONGs de Direitos Humanos (Human Rights) defendem um melhor tratamento carcerário no Brasil, ouvimos em alto e bom som que seus agentes deveriam ir para a cadeia por defenderem criminosos. Mas, quando acontece, como aconteceu agora, de expulsarem pessoas dessas mesmas ONGs da Venezuela, então o Chavez é um ditador.
As pessoas se acostumaram a defender o capitalismo excludente e imperialista e naturalizaram tal discurso, dizendo que falar o que quer é parte da democracia, mas não aceitam um governo de esquerda na América Latina, principalmente quando este mostra, por A mais B, o quão fascista é aquilo que é defendido como "valores democráticos". Lêem nas manchetes dos jornais "Chavez expulsa ONG de direitos humanos" e dizem: "hijo de puta", mas não conseguem ler nas entrelinhas o que esses meios de comunicação estão, de fato, querendo vender. Ou seja, nem que for a mãe, mas eles tem de vender. E precisam de gente acreditando naquilo que eles dizem. Ou então é assim: "Bolívia anda para trás". Sem dizer que é a primeira vez em 500 anos de dominação, que um índio chega ao poder naquele país (e, de resto, acho que em toda América Latina.
Mas o pior de tudo é quando, mesmo quando vc dá um search no google e vai atrás de notícias independentes e só consegue ter acesso aos mesmo discursos míopes de quem não consegue tolerar a diferença e a liberdade, ainda que seus discursos sejam recheados da ânsia de "diferença e liberdade".
sobre a expulsão dos "ativistas de direitos humanos dos EUA", reclamando "falta de democracia na Venezuela", seria bom ter mais algumas informações por parte do próprio governo - que, afinal, deveria ser ouvido, antes de ser condenado - como a de saber que:
“o governo erradicou o analfabetismo, levou saúde à população mais pobre, garante acesso ao trabalho, isso é respeito aos direitos humanos, não violação”, afirma German Sálton, representante do Estado venezuelano na Comissão Interamericana de Direitos Humanos. “Quando houve o golpe de Estado e o canal estatal foi tirado do ar, esta organização (ONG) não emitiu nenhuma frase condenando esta violação à liberdade de expressão, nem tampouco contra o golpe”, acrescentou.
Quem não viu ainda o vídeo "a revolução não será televisionada", é só assistir em http://www.youtube.com/results?search_query=a+revolu%C3%A7%C3%A3o+n%C3%A3o+ser%C3%A1+televisionada&search_type=&aq=f , para que não reste dúvida do que estamos falando aqui. No mais, meu amigo, se você acha que essa conversa toda é "dejà vu", você deveria rever um pouco seus conceitos e perceber que estamos, de fato, passando por uma mudança no painel político em toda a América Latina - Paraguai acaba de entrar - que é fruto, inclusive de toda a contradição do racionalismo branco-saxônico-protestante-liberal que dá sinais claros de seu esgotamento enquanto proposta universalizante e globalizada de uma pretensa ordem baseada na liberdade, no humanismo e na democracia. Justiça social parece ser uma questão a ser levada em consideração, também, de agora em diante.
E se tudo isso ainda não ter convence, pois você é anti-messiânico, então é preciso dizer que Adam Smith quando falou pela primeira vez "na mão invisível do mercado que a tudo regula", antes do liberalismo ter se tornado o que se tornou, também foi uma espécie de profeta messiânico em seu tempo e essa poderia ser uma leitura mais generosa para o que está acontecendo na política, hoje. Enfim e em todo caso: sejamos mais cuidadosos com os rótulos e menos "generalistas" quando tiver de sermos.
21 de set. de 2008
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